IMPLICAÇÕES DE IDENTIDADE:
EDIFICANDO UM POVO QUE
MINISTRA
INTRODUÇÃO
Podemos dizer que um dos
grandes desafios do ser humano é o de conhecer aquilo para o qual empreenderá
sua vida ou parte de sua vida. Sem um momento de silêncio e reflexão para procurar
conhecer aquilo para o qual vamos nos dar e dar de nós é correr riscos para
futuras decepções e infortúnios pessoais. Em outras palavras, é colocar em
risco nossa própria vida.
O mesmo princípio é válido
para a identidade de uma igreja. Conhecer a igreja de Cristo a partir de uma
perspectiva bíblica é indispensável para a caminhada rumo à consolidação e
continuidade da implantação de uma igreja sadia. Isto é fundamental para uma
convivência humana como experiência de alegria, de cooperação, de fraternidade,
de serviço, de missão e de crescimento pessoal e comunitário em Deus. O
desconhecimento pode nos conduzir à tentação de fazer da igreja uma espécie de
imagem daquilo que eu sou e penso, distorcendo uma visão bíblica de certos
pontos sobre a identidade da igreja e impedindo a agilidade da comunidade
cristã na sua vida comunitária e missionária.
Gostaríamos de abordar
alguns apontamentos necessários para fixar em nossa mente, de uma vez por
todas, aquelas questões bíblicas acerca do ser da igreja que poderíamos dizer
serem inegociáveis, ou seja, valores que não se alteram e que possibilitam ao
povo de Deus, nas demais áreas da vida da igreja, a serem criativos e mais do
que isso, contextualizados, atualizados, enfim CONTEMPORÂNEOS.
Creio que de início uma
questão precisa ser levantada: - Quais seriam as áreas específicas que nos
devem interessar na igreja local, pensando em aperfeiçoar o povo de Deus,
tornando seus membros relevantes uns para os outros e a igreja para o mundo?
1.
A Igeja não é
apenas um amontoado de pessoas, ela é povo de Deus.
A
bíblia é clara neste ponto: nós não somos apenas uma soma de pessoas. Somos um
povo, temos um nome e com isto uma meta, uma missão, um referencial
existencial.
2.
A Igreja não existe só por causa do seu culto de domingo.
Sua
missão é mais ampla do que apenas reunir-se para o culto e quando nos limitamos a participar
da igreja só em função do culto, estamos limitando o que Deus pode fazer
através de nós individualmente e socialmente. Há pessoas que podem estar pensando,
“Ah, eu vou ao culto todos os domingos e acho que isto basta para ajudar a
minha igreja”.
3.
Deve-se ter uma
visão dos propósitos que Deus procura realizar através do seu povo.
Martim afirma que
“os cristãos têm, com freqüência,
uma visão severamente limitada dos propósitos que Deus busca realizar através
da igreja”. Devemos concordar com
tal afirmação pois o que percebemos na maioria das igrejas estabelecidas,
pensando a nível de Brasil, é todo um trabalho e agenda voltados para a
manutenção da igreja, dos trabalhos já existentes e para a consolidação dos
sistemas e estruturas internas, sejam relacionados ao governo, evangelismo,
louvor, educação cristã ou outra área qualquer. É como se todo o propósito de
Deus se resumisse nisso: atas, paletó, departamentos internos, recursos
materiais, conferências, etc.
Tanto no AT quanto no NT podemos perceber que os
interesses e propósitos de Deus estão muito além deste conjunto de valores
criados pelos nossos vícios e concepções reducionistas de igreja. Para confirmar
esta observação, particularmente, aprecio muito o texto de Efésios 1.22 e 23:
“E pôs todas as cousas debaixo dos seus
pés e, para ser o cabeça sobre todas as cousas, o deu à igreja,
a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as
cousas”.
texto
merece um estudo mais aprofundado, mas quero apenas que você observe as
palavras grifadas (é o seu corpo), ou seja, a igreja é a expressão de Jesus
Cristo. Quais foram os propósitos de Deus através de Jesus? A igreja só não
salva, mas no que diz respeito à abrangência do ministério de Jesus, podemos
afirmar ser de responsabilidade da igreja de Cristo.
4.
Deve-se ter uma
visão do amor em que relacionamentos pessoais íntimos possam ser desenvolvidos.
“Novo
mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que
também vos ameis uns aos outros.
Nisto
conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amos uns aos outros”.
Francis
Shaeffer diz que “esta passagem revela o
sinal que Jesus dá para rotular um cristão não somente numa época ou numa
localidade, mas em todos os tempos e em todos os lugares, até a sua volta”.
Esta é uma ênfase em todo o
NT e em I João 3.11, João afirma que o amor é a essência da
mensagem ouvida desde o início: “Porque a mensagem que ouvistes desde o
princípio é esta, que nos amemos uns aos outros”.
Estejamos
no Brasil, ou nos EUA ou em qualquer outro lugar somos chamados a eleger o amor
como sinal da comunidade cristã. Estamos implantando uma igreja e o amor deverá
ser um dos pilares fundamentais deste projeto. Devemos começar já neste caminho
de amor. Este é um sinal inadiável, que não se deixa para começar amanhã. Deus
nos livre de sermos uma comunidade de relacionamentos superficiais, de amor só
de boca, ou de alienação em relação aos problemas dos outros. Quem ama se
compromete, se doa e, acima de tudo, faz a vontade do Senhor.
A
comunidade cheia de amor é o contexto em que os dons espirituais são exercidos.
O contexto relacional do ministério também nos leva a explorar a natureza
não-institucional da capacitação. Os dons - no sentido mais limitado do dom do
corpo e no sentido mais amplo da capacidade como concessão geral do Espírito -
devem expressar-se no contexto dos relacionamentos pessoais íntimos.
Um
dos desafios a serem enfrentados por uma igreja que deseje edificar um povo que
ministra é desenvolver uma comunidade de amor, como o contexto para o exercício
dos dons do corpo, e para construir relacionamentos significativos com a
comunidade que a cerca, a fim de possibilitar a continuação no mundo.
5.
Deve-se aprender
a fazer discípulos e não apenas membros de igreja.
Este ponto merecerá em outra oportunidade uma atenção
maior uma vez que o fazer discípulos é a meta final da evangelização e da
implantação de igreja. Afinal, o que se pretende com a nova igreja é que seja
ela uma comunidade de discípulos e não apenas de crentes evangélicos.
A ênfase sobre a encarnação, tanto na nova aliança
como nos ensinamentos sobre o reino, ajuda-nos a compreender como é vital o
crescimento à semelhança de Cristo para um povo ministrador. Para representar
Jesus no mundo, é absolutamente essencial que cresçamos em direção à maturidade
cristã e isto só se realizará via discipulado. O que pretendemos ser não é um
grupo de crentes, mas de discípulos do
Senhor.
6.
Deve-se guiar o
povo de Deus para que seus membros tornem-se servos uns dos outros e do mundo.
O cristão é
chamado para envolver-se com outros em suas necessidades e expressar interesse
de maneiras significativas. Veja que esta idéia revela a necessidade de
construir relacionamentos sólidos, profundos e significativos. Importante para
isto é criar uma disposição pessoal de relevância para os outros e ver no
próximo o seu valor como pessoa humana. O alvo na comunhão dos santos é de
relacionar-se com a necessidade humana a fim de gerar compromissos responsáveis
com o próximo e despertar nele e em mim a atenção para o chamado de Deus para
uma convivência dinâmica, sempre em crescimento e coesa.
7.
Deve-se
providenciar treinamento, no ministério, para que os membros do corpo possam
servir a Deus com eficiência.
Este ponto é parte da nossa filosofia pessoal de
ministério e creio que também deva ser da igreja. O discipulado permanente deve
ter como foco a edificação permanente em direção à maturidade e compromisso pessoal
com todo o conselho de Deus.
A medida que o Espírito chama os crentes aos vários
ministérios, dando-lhes uma visão e moldando-a, é preciso que sejam também
equipados para o ministério. Este é o papel da educação cristã na vida
eclesial.
Do ponto de vista daqueles que possuem e desenvolvem
ministérios dentro da igreja, é necessário um espírito ensinável, desejoso de
aprimoramento com vistas à excelência daquilo para que foram chamados a
realizar. Deve-se evitar descansar em modelos pré-estabelecidos, o uso
permanente de estratégias e métodos que conhecemos somente porque nos
acostumamos com eles ou porque são os únicos que conhecemos e ainda, evitar
aquele espírito maligno que sei tudo o que preciso saber na minha área de
trabalho. Caso isto não seja verificado, ocorrerá que todo potencial, talentos
e criatividade, uma vez sufocados, perderão o seu sentido e significado e a
comunidade se tornará irrelevante e ineficaz em seu ministério.
8.
Deve-se possuir
uma melhor compreensão da liderança no corpo de Cristo.
Ao mesmo tempo que somos levados a acreditar numa
liderança qualificada em todos os sentidos, espiritual, moral, de conhecimento
da Palavra e na comunicação e ministério, que possui a responsabilidade de ser
modelo e padrão do féis, devemos pensar e construir os meios de como os líderes
podem funcionar em conjunto com outros membros que também participam
inteiramente em Cristo da responsabilidade de ser um povo de ministradores.
9.
Deve-se construir
um pensamento bíblico acerca da missão e espiritualidade integral da igreja.
Ora, com isto estamos afirmando que o nosso papel como
igreja de Deus é amplo e dirige-se para todas as esferas da vida. A visão de
papel e ação da igreja deve ser ampla, procurando agir e influenciar na
cultura, nas estruturas da sociedade, na espiritualidade de um povo, etc.
No que diz respeito ao ser da igreja, somos chamados a
desenvolver nossa vida devocional particular quanto comunitária, a adoração
(louvor, orações, etc), a sociabilidade (pic-nics, passeios, esporte, etc), o
profissionalismo, etc...
10.
Deve-se cultivar
um espírito aberto para uma estrutura dinâmica.
Devemos a todo o custo evitar os ranços estruturais
(formas), que são criados por um pensamento pobre e reducionista quanto maneira
da igreja ser e funcionar. Precisamos entender que a mudança não é má quando
procura reparar uma situação ou organismo ineficiente e que não comunidade da
melhor forma o evangelho ou a vida cristã. Não podemos enriquecer o ser da
igreja por causa de métodos e estratégias arcaicas e superadas por questão de
atualidade.
11.
Deve-se cultivar
no processo de crescimento a idéia e a atitude de não se criar aquele
sentimento de posse ou “senhores” de determinados ministérios, áreas e projetos
na igreja.
Isto azeda o crescimento. Todas as vezes que determinadas
pessoas se sentirem insubstituíveis na sua função além de causar indisposição
nos membros do grupo, estará matando as novas vocações dons. A igreja já não
será mais do Senhor, mas de famílias ou indivíduos que tiverem mais
concentração de funções, podendo determinar a vida da igreja.
12.
Deve-se entender
que a IGREJA é uma referência para um projeto maior do que ela mesmo.
Ela
está abaixo do Reino. Ela deverá, no entanto, ser uma plataforma ou uma
referência de um ministério maior, mais amplo, que extrapole os limites das
questões internas na igreja.
Um
grande perigo no processo de crescimento de um grupo é aquele em que se perde a
visão de fora em função das demandas internas. Quando isto acontece, a igreja
para de crescer. Há que cuidar da sua vida interna, prestando atenção na
necessidade de amadurecimento dos seus membros, de suas estruturas e formas,
porém, sem jamais, perder de vista que o mundo é o palco maior e final de sua
missão.
13.
Deve-se entender que a Igreja é a cara dos seus
membros.
Responsabilidade,
entusiasmo, alegria, dinâmica são palavras que caracterizam a vida de uma
gireja. Contudo, lembre-se que quemproduz esta “cara da igreja”são as pessoas
que estão arroladas na igreja. O produto final da igreja é a soma das
personalidades que ela abriga.
14. Você deve entender que a igreja
precisa de você.
Sim,
você não pode ser um membro inativo, disfuncional e sem envolvimento e
participação. O seu talento, seus dons espirituais, o seu tempo, o seu parecer,
sua habilidade estão a serviço do Reino de Deus desde o dia em que você se
converteu.
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