quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pastoras uma Questão de Visão


Ela é pastora. É pastora não porque é minha mulher, mas porque a igreja naturalmente a reconheceu como tal pela totalização de suas ações pastorais. É claro que eu também sou testemunha deste chamado divino e ministério em sua vida. Ando ao seu lado, nem à frente e nem atrás. Pelo menos tento.

Creio que muitas a conhecem principalmente neste fórum, Pra. Zenilda R. Cintra.

Durante todo debate feito pela internet tenho procurado ficar isento por algumas razões:

1. A mais óbvia é que sou suspeito em tudo que falo ou escrevo pelo fato de ser seu cônjuge – pelo menos assim alguns podem pensar.

2. Porque ela é muito competente em suas argumentações e estou com ela em sua forma de escrever não necessitando de repetir as mesmas coisas;

3. Queria ter um quadro bem claro dos diversos listeiros que escrevem sobre o assunto para depois me pronunciar.

Neste inicio do ano senti vontade de fazer algumas colocações e espero que de alguma maneira possamos crescer no entendimento do assunto em pauta.

Ainda que o debate sobre ser bíblico ou não ser pastora, já seja exaustivo, não há como negar que na boca dos que são contrários ele sempre aparece e, é claro, com a afirmação de que a Bíblia não endossa o ministério pastoral feminino.

As respostas por parte de quem defende, geralmente são mostrar alguns textos em que a mulher é colocada em situação pastoral.

Com certeza, isto é parte, mas não é suficiente. Por mais que se mostre, os que não concordam com o ministério pastoral feminino não poderão ver porque estão míopes quanto à maneira de olharem os textos bíblicos. Aqui não há nenhuma intenção de ofender quem quer que seja, mas sim procurar ampliar a compreensão do assunto.

Sem querer ser simplista, mas sendo, tudo é uma questão de visão.

Tudo começa pelo olhar. Para os que rejeitam a função pastoral feminina seus olhares estão centralizados na razão, na filosofia iluminista, machismo e no pensamento que despreza os sentidos, a simplicidade da existência humana. O olhar é posto sobre as Escrituras e penetram apenas onde os olhos humanos podem ir. É limitado. É embaçado pela ideologia adquirida ao longo dos anos. Faz-se necessário buscar a ajuda do Espírito Santo que, como uma lupa, aumenta a nossa visão e nos ajuda ver em maior profundidade a vontade de Deus para as nossas vidas, de sua igreja e Reino.

Ao permitirmos este acontecimento em nossas vidas recuperaremos o valor da sexualidade oposta, no caso feminino, a questão do corpo da mulher e todo signo implícito a esse. O corpo que, independente da sexualidade, se faz sinal do Reino e das possibilidades de Deus para a realização de seus planos.

É necessário uma nova leitura a partir do resgate do feminino nos textos bíblicos.

Por exemplo, ver Eva, a mãe dos viventes, mais do que a tentadora do seu parceiro Adão. Matriarcas como Sara, Rebeca e Lia, tão importantes como os patriarcas. O êxodo e a libertação do Egito a partir da articulação de mulheres, parteiras e mães. Raabe como aquela que possibilitou a posse da terra pelo povo. Débora e Jael que tiveram papel decisivo no processo de formação de Israel e no início da profecia. Hulda que foi a profeta que mediou uma grande reforma em Israel. Rute, Judite e Ester como projetistas da força do povo bíblico. A jovem amante ousada do Cântico dos Cânticos que proclama a força do amor.

Ainda é preciso olhar para Jesus que, em qualquer dúvida que tenhamos, serve de padrão regulamentador. No seu discipulado, teve mulheres que o seguiram desde a Galiléia, estiveram presentes ao pé da cruz e foram as primeiras apóstolas da ressurreição. Há mulheres ligadas à palavra como Maria Madalena, Marta e Maria. Há mulheres curadas e reintegradas à diaconia como a sogra de Pedro, a hemorrágica, a filha de Jairo e a mulher encurvada. Há mulheres evangelizadoras, como a Samaritana e a siro-fenícia. Nas comunidades, há mulheres que protagonizam o culto e a profecia como as de Corinto. E ainda Priscila, Lídia, Febe, Maria e tantas outras.

Qual é a visão? O que se precisa ver? Em toda a Escritura a chave é: Deus está construindo uma nova comunidade. Começa do ponto cultural e social, isto é, histórico, do povo, e caminha rumo a uma sociedade onde contraria valores marcados pela discriminação, casta, injustiças e opressões. O eixo sai de uma sexualidade masculina, passa pela possibilidade de uma sexualidade feminina em questões ligadas a direitos, deveres, poderes e descortina na oportunidade ilimitada para o ser em toda sua potencialidade e oportunidades.

Por isso é preciso desconstruir os textos, ou melhor, dizendo, precisamos desconstruir a maneira como fomos ensinados a ler os textos. Se eu fosse da esquerda ia até dizer que precisamos desconstruir os interesses que os escritores, escribas bíblicos tiveram ao escreverem algumas situações, como por exemplo, o papel da mulher na Monarquia que foi praticamente aniquilado, mas não sou. Sou, digamos, moderado em questões hermenêuticas. Basta desconstruir a tradição. A que recebemos.

O processo de desconstrução supõe desfazer processos viciados que produziram o texto, analisar as entrelinhas, buscar o que está por trás das palavras. Desconstruído o texto, é preciso reconstruí-lo com novas relações de gênero, em que mulheres e homens, possam construir novo modo de ser. A reconstrução do texto implica em buscar novos paradigmas, descobrir novas mensagens no texto refeito.

Portanto, aceitar pastoras é uma questão e sempre será de visão. Visão ampliada, em nova direção, profunda, que venha realmente da ação do Espírito Santo através de sua igreja que é maior do que seus próprios líderes e interesses.

2 comentários:

  1. Olá pr. Fernando, graça e paz!

    Quantas "pastoras" o sr. conheceu na sua infância?
    Saberia dizer?

    Abraços.

    Pr. Aparecido Fernandes

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  2. Não conheci nenhuma que tinha o titulo de pastora, mas conheci muitas missionárias que tinham o perfil de pastoras. A verdade é tenho conhecido várias pastoras aqui no Brasil e fora e tenho visto o dom presente na vida de pessoas quer do genero masculino (macho), como do genero feminino(fêmea). Na minha infancia não vi também muitas coisas que hoje estão presentes, por exemplo: pastores de barba, não usando terno e gravata, diaconisas, cânticos espirituais e etc... e nem por isso questiono hoje a validade por entender que estamos mais esclarecidos e bíblicos quanto aos princípios bíblicos. Fique na paz. Abraços.

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