segunda-feira, 1 de junho de 2009

Uma Geração de Azeite e Vinho




Nem sempre é fácil fazer o que precisa ser feito, assumir compromissos que cumpram a agenda de Deus para o mundo e para as nossas próprias vidas. Mas independente do quanto é difícil, precisamos agir em conformidade com os princípios espirituais que a Palavra de Deus nos ensina. É preciso coragem. Não precisamos de líderes ou pessoas loucas, mas servos que sabendo a verdade possam tomar a iniciativa e realizarem a obra que irá glorificar ao Pai, custe o que custar.

Precisamos de líderes que ajudem no soerguimento de igrejas que lutam para se preservarem da iniqüidade, para fazerem justiça, para exercitarem a compaixão cristã com todos os que sofrem e por isso paga um alto preço. Precisamos de obreiros que pertençam a uma geração de azeite e vinho. Que sabendo o que é certo, deixam o discurso, as críticas passivas e realmente assumem, mesmo não estando no centro da ‘religião’, sua parcela de contribuição, lutando uma luta contra o preconceito, a falência, o descaso, enfim, a própria morte.

Estou pensando sobre a parábola do bom samaritano, contada por Jesus, narrada por Lucas 10:29-37. Tem tudo a ver com nossa postura diante do outro.

Conforme a história, havia um homem que foi espancado e estava à beira do caminho, quase morto. O primeiro personagem citado por Jesus foi o sacerdote. Ele viu, diz a narração, e passou de lado. Sabe-se que se ele parasse para ajudar teria grandes consequências em seu ministério que atingiria sua reputação e sua própria sobrevivência. Não era qualquer homem caído a beira do caminho, era um quase morto, e isto para um judeu era muito sério. E se quando fosse ajudar ele morresse? Ficaria impuro pela lei. Teria que voltar ao templo, lá seria disciplinado por seus superiores, teria que entregar suas roupas sacerdotais e ficaria sem a sua função por um período de tempo. Além do mais, receberia as críticas e até se sentiria sujo por ter tocado na escória da sociedade.

O sacerdote não ajudou o homem caído porque perderia seu status quo, porque teve medo e por falta absoluta de amor, compaixão. Passou longe mesmo estando perto. Era religioso, mas não tinha o azeite e o vinho que deveria ter como sacerdote. Porque não tinha, não pode atar as feridas do pobre homem. Que continuou a agonizar.

Em seguida um levita agiu da mesma maneira. Se o seu chefe fez o que fez por que ele faria diferente? Não fez. Repetiu o padrão. Passou longe. Uma religião hierárquica é assim mesmo: se o cabeça não tem remédio para cura quem vem abaixo também não tem. Faltou azeite e vinho.

Quando tudo parecia perdido na vida do homem, surgiu alguém que pertencia à raça considerada pior do que um animal para um judeu: um samaritano. O que essa história, que sai diretamente da boca de Jesus, nos surpreende é o fato dele ter consigo azeite e vinho, algo que era peculiar aos dois que passaram antes pelos ofícios que desempenhavam e não a ele. Tendo, usou para ajudar a curar as feridas do outro. Foi além, colocou o homem sobre a cavalgadura deixando-o na estalagem, passando com ele uma noite e se comprometendo financeiramente com que nem conhecia.

Jesus perguntou ao seu ouvinte, doutor da lei: “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” Ele disse: “O que usou de misericórdia para com ele”.

É interessante que, mesmo diante da constatação do fato, o entendido da lei não diz: o samaritano, mas o que usou de misericórdia. Na verdade, temos aqui um quarto personagem que não aprendeu a ter azeite e vinho e que mesmo diante da orientação de Jesus, vá e faze da mesma maneira, tudo indica que não foi.

Uma parábola tem sentido próprio. Quem tem ouvidos, ouça o que Jesus está dizendo. Que nossa atitude seja como a do samaritano, com azeite e vinho para curar, a fim de que não haja tantos caídos à beira do caminho.

sábado, 30 de maio de 2009

A INTEGRIDADE DO LÍDER CRISTÃO E A SUA AUTORIDADE


A verdade é o alicerce da autoridade

Exercer autoridade em nossa comunidade é um dos maiores desafios que podemos enfrentar como líderes no Reino de Deus. Nosso padrão é Jesus. Temos que seguir seu exemplo. Qualquer desvio é danoso e desastroso para a nossa vida e do nosso ministério.

O que entendemos sobre autoridade?

Segundo Bento Souto[1] a palavra "autoridade" aparece 68 vezes no texto do Novo Testamento da edição Revista e Atualizada de Almeida - SBB 1997. Todavia, no original grego existem várias palavras para "autoridade".

A primeira delas é "exousia" e ela é a mais usada para designar "autoridade" no Novo Testamento. Mateus nos diz que Jesus "ensinava como quem tem autoridade (exousia) e não como os escribas" (Mat.7:29).

A segunda palavra usada para "autoridade" é "archon". Ela também é muito usada no NT, especialmente quando a Bíblia fala de governantes, comandantes, líderes, príncipes, comandantes, etc. Tem a ver com hierarquia. Em Romanos 13:3 lemos "Porque os magistrados (archon) não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade (exousia)? Faze o bem e terás louvor dela".

A terceira palavra usada para "autoridade" é "katexousiazo". Ela só aparece duas vezes no Novo Testamento. Em Mateus 20:25 "Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade (katexousiazo) sobre eles". E também em Marcos 10:42 "Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade (katexousiazo)".

A quarta palavra usada para "autoridade" é "exousiazo". "Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade (exousiazo) são chamados benfeitores" (Lucas 22:25). Parece que tanto "katexousiazo" quanto "exousiazo" significam a autoridade (exousia) sendo exercida.

A quinta palavra usada para "autoridade" é "huperoche". Ela aparece apenas duas vezes no NT. Uma delas é numa admoestação para orar "em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade (huperoche), para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito" (1Tim 2:2). E a outra é relativa a palavras usadas por Paulo na pregação. "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação (huperoche) de linguagem ou de sabedoria" (1Cor 2:1). Segundo Thayer, "huperoche" significa elevação, preeminência, superioridade.

Depois de cinco palavras para "autoridade" (exousia, archon, katexousiazo, exousiazo e huperoche) o apóstolo Paulo usa mais uma nesse versículo, "authenteo".
"Não permito que as mulheres ensinem ou tenham autoridade (authenteo) sobre os homens..." (BLH 2Tim 2:12). Temos que recorrer aos Léxicos se quisermos ter um melhor entendimento, a seguinte explicação é apresentada: “authenteo”: alguém que com suas próprias mãos mata outro ou a si mesmo, alguém que age em sua própria autoridade, autocrático; um mestre absoluto; governar, exercer domínio sobre alguém, "ter completo poder sobre", controlar de maneira arrogante (tiranizadora), controlar, dominar. "Controlar de uma maneira dominante" é freqüentemente expressado idiomaticamente, por exemplo, "gritar ordens para", "agir como um chefe para", ou "latir para". É um domínio exacerbado, quase sangrento. Esse tipo de domínio foi condenado por Jesus. Ele disse: "Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva" (Mateus 20:25,26).

O fato é que precisamos aprender a exercer de maneira bíblica a autoridade que Deus nos concedeu para o desenvolvimento do ministério em qualquer tempo e lugar.

Como podemos ser considerados aprovados neste caminhar?

1 – Tendo a consciência de que “huperoche” e authenteo” não devem ser os tipos de autoridade exercida por líderes íntegros.

É possível exercer uma influência impondo-se, dominando, controlando, sendo superior ou acompanhando, escutando, encorajando o crescimento, oferecendo confiança e convidando à responsabilidade. No caminho de nossa liderança teremos sempre as duas possibilidades à escolher.

Quando exercemos autoridade do tipo “huperoche”ouauthenteo”, à primeira vista temos a certeza de que agimos bem porque experimentamos o forte senso de dever em ensinar aos outros uma série de verdades. Neste caso o outro não tem nada a dizer; deve escutar, aprender e obedecer. Aqui a autoridade impõe e se impõe. No entanto quando exercemos tal tipo de autoridade não somos capazes de alcançar o outro no seu caminho, não o respeitamos, o tratamos como inferior e criamos um senso de culpa em sua vida. A autoridade sadia é aquela que é exercida para ajudar outros a se tornarem responsáveis.

2 – Tendo a consciência de que precisamos exercer a autoridade de Cristo em nós mesmos.

Gosto do versículo: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará" Jo 8.32 (NVI). A verdade é que nos fará livres de todo o poder maligno que habita em nós, em nossa liderança. Cristo exerceu sua autoridade "exousia" (seu poder de exercer influência) para perdoar pecados, expulsar espíritos maus, vocacionar discípulos, etc. O que fica claro é que todas as atitudes de Cristo eram regidas pelo amor, Ele usou de autoridade para manifestar amor.

Na tentação (conf Mt. 4.1-11) ele poderia utilizar sua autoridade"exousia" (direito de agir) para fazer coisas boas, mas elas seria desprovidas de relacionamentos. Onde não há ações de amor, a autoridade se torna sinônima de poder e esse destrói.

Todas as tentações do diabo instigavam Jesus a utilizar a sua autoridade, Jesus poderia utilizar sua autoridade, seu poder, para transformar muitas pedras em pão, e assim, alimentar multidões, governar as nações com poder e equidade e ao ser salvo pelos anjos demonstrar que todos podem confiar em Deus. Mas ele diz não a cada tentação, pois essas manifestações de autoridade estariam sem o invólucro do amor, seriam o poder aplicado a força, sem contexto de relacionamento e amor, seria um poder por imposição. A autoridade "exousia" se transformaria em "huperoche".

E poder do Espírito não acontece por força e violência, de forma impessoal, mas sempre

exercido de forma pessoal, com base em relacionamentos. A autoridade advinda do Espírito Santo não é coercitiva. Depois de ser tentado, Jesus, sempre na autoridade do Espírito Santo, sai pelas ruas da Palestina, alimentando famintos, fazendo justiça e utilizando milagres para evangelizar, sempre no contexto da relação, do pessoal e do amor.

3 – Tendo a consciência dos perigos que cercam a nossa autoridade.

A tentação de consideramos nossa autoridade como instrumento de poder malévolo, "huperoche" e authenteo”, sempre existiu e sempre continuará a existir.

O prestigio e o poder são irmãos gêmeos que nascem de uma autoridade errônea.

É o “eu” que se impõe procurando grandes números, dinheiro, sucessos, empreendimentos, proteção. Daqui nascem cruzadas, cercas, barreiras entre quem está dentro e quem está fora. Nasce também uma síndrome de “Messias” levando o líder a “ser” Deus e não amar a Deus, controlar os outros e não amar os outros, possuir a vida e não amar a vida. Leva-nos a responder a pergunta de Jesus: “Tu me amas mais do que estes? (conf. Jo 21.15) da seguinte maneira: “Podemos sentar à tua direita e à tua esquerda?”(conf. Mt 20.21)

Uma coisa é clara: a autoridade que é exercida pelo poder e prestigio é tanto mais forte quanto mais intimidade é uma ameaça para o líder. Quando falta o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis entre o líder e seus liderados o controle e o poder ocupam a preferência em seu coração.

4 – Tendo a consciência de que precisamos de discernimento.

Nosso coração é enganoso. Por isso precisamos buscar em Deus discernimento para percebermos se estamos usando a autoridade de Deus, "exousia", em nosso ministério.

O esquema de discernimento correto deve obedecer:

· O reconhecer – é preciso, mediante avaliação no Espírito Santo, reconhecer a tentação de ser grande ou de se ter uma grande igreja usando para tanto uma autoridade em que o outro é apenas um número e um meio para alcançar os objetivos; perceber que as tensões, fraturas, solidão, medo, despeitos, amor não

correspondido pode ter transformado um líder que usava a autoridade para abençoar em um líder amargo que usa agora a autoridade para manipular.

· O Compreender – Significa passar do que aparece externamente ao significado profundo. Por que a nossa autoridade sadia se transformou em “huperoche” ouauthenteo” ou até mesmo na combinação de ambas? Isso faz com que conheçamos os movimentos que nos levaram a estar agindo dessa maneira. Não reconhecer significa repetir ou perpetuar o passado.

· O Julgar – Agora chega à hora de perguntarmos? Para onde estou sendo levado através da autoridade que exerço? Caminho para ao bem ou ao mal? Deus está satisfeito com minhas atitudes? Podemos dizer como Paulo: “Agora eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim”(conf. Gl. 2.20)?

· O Agir – As reflexões e as avaliações têm de conduzir à decisão. “Segui-me (...) deixando imediatamente o barco e o pai, eles seguiram”(Mt 4.19-22). A única decisão aceitável pelo Pai quanto à autoridade é aquele que se transforma em serviço e só saberemos que realmente estamos trilhando a decisão acertada quando o Senhor a confirmar através de sua bênção sobre nossas vidas e ministérios.

Sei que não é fácil. Erramos muitas vezes no manipular de nossa autoridade. Mas é preciso pedir perdão pelo pecado de usarmos tão precioso dom, a autoridade, de forma destrutiva, mesmo que isso precise acontecer várias vezes em nossa trajetória ministerial.

É preciso sempre lembrar o que Jesus nos disse:

"Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma”. Jo.15.5

Ele tem a autoridade, "exousia", toda autoridade, se estivermos continuamente nele e ele em nós, daremos bons frutos advindos de sua autoridade.


[1] Ver artigo complete no blog do autor: http://blogdobento.blogspot.com/

A INTEGRIDADE DO LÍDER CRISTÃO E O SEU SERVIÇO


ele deixou-nos o exemplo para que sigamos suas pisadas...” I Pe 2:21

Não há ministério sem serviço. Portanto, o líder cristão precisa aprender a servir. Servir com integridade.

Esse tipo de serviço só pode acontecer se for realizado com amor; caso contrário, será apenas uma atividade. O líder cristão não foi chamado para exercer atividades. Nossa vocação deve ser a mesma de Jesus: a radicalidade para com o outro – “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo.13.1).

Dois caminhos que temos tomar para que sigamos as pisaduras de Jesus.

Temos que ajustar os modelos que herdamos de serviço.

Ao longo da história, por algumas razões, o modelo de serviço masculino foi separado do modelo de serviço feminino e foi tomado como único modelo para um serviço de sucesso. O primeiro diz respeito à estrutura, organização, decisões, eficiência enquanto o segundo apela para a escuta, a comunicação, a solidariedade, a mútua edificação em amor. É preciso unir os dois modelos quando pensamos em serviço no Reino de Deus. Ou melhor, é preciso recuperar o modelo feminino perdido na história.

O primeiro exemplo é o de Débora, a profetisa. A Palavra de Deus diz que ela ficava sentada debaixo de uma palmeira (Jz. 4.5), acolhendo os israelitas que lhe falavam sobre suas lutas e procuravam soluções para seus dilemas. O interessante é que, pelo relato bíblico, Débora não somente ouvia, mas falava também (Jz 4.4). O importante aqui são os dois serviços realizados por ela: o da escuta e a do anúncio. A atitude de ficar sentada dá a ela uma visão clara dos fatos da vida a partir da audição, ao tempo que faz dela a própria boca de Deus quando ordena a Baraque que faça o que precisa ser feito, quando se faz líder do culto de celebração, agradecendo a Deus pela vitória.

Nosso serviço deve ser resultado do que ouvimos do povo. O povo sofre, as pessoas estão perdidas à procura de consolo. O líder íntegro é aquele que está disposto a ser solidário com o seu povo, que assume suas responsabilidades, que não fica calado e nem passivo, apesar de saber que o mal experimentado muitas vezes é resultado da própria ação do povo que anda em desobediência a Deus.

O segundo exemplo é o de Miriã. Uma das coisas interessantes em sua vida foi a sua ligação com a água: da salvação de seu irmão, da salvação do seu povo, como da contestação (Êx 2; Ex 15.20 e Nm 12.5-10). Ela faleceu em Cades, quando o povo não tinha mais água” (Nm 20.1-2). A água chega ao povo por vias desta mulher e na literatura sapiental água tem a ver com sabedoria de Deus comunicada ao povo na Palavra. Então podemos afirmar que desta mulher, pela fé, Deus permitiu brotar água da revelação na vida do povo, peregrino até a terra prometida.

Através do seu serviço (Êx 15:20-21), vemos o aspecto feminino de sua liderança: apreciou, apoiou e criticou a liderança masculina, anunciou profeticamente a presença e as maravilhas de Deus na caminhada do povo, animou os momentos celebrativos; foi nascente de água viva, oferecendo a Palavra ao longo de sua vida. Foi competente, solidária e participativa e essencial em termos complementares para a liderança de Moisés. Foi lembrada pelo profeta Miquéias como uma liderança reconhecida (Mq 6:4).

Nosso serviço precisa levar em conta a alegria das ações de Deus, a celebração da vida e o fato de que precisamos ser complemento de outros na jornada da liderança e que até temos possibilidades de erros de visão.

2. Temos que agir como Jesus agiu.

Quero trazer a nossa mente à cerimônia do lava-pés realizada por Jesus com os seus discípulos (Jo 13.1-17).

O serviço de qualidade, segundo o modelo de Jesus, é aquele que se faz em amor. Sabemos que amar as pessoas não é tão fácil assim, especialmente se do “geral” descemos ao concreto das pessoas.

Cristo desenvolve, durante o lava-pés, a pedagogia do exemplo, pois se investe voluntariamente de posição de extrema humildade para, então, ensinar que tal posição, que assume por um instante, deverá ser reproduzida eternamente por seus discípulos, uns com os outros. Todos deverão lavar os pés de todos para sempre, se até mesmo Ele assim o fez.

O paradoxo do Deus que se faz humilde, não exprime hierarquias, como as existentes entre os homens, mas algo muito maior: seu amor pelo ser humano. A expressão "hierarquia" é, em si, inadequada para descrever a proximidade e a distância entre Deus e o homem.

O gesto do lava-pés ilustra, de modo mais convincente, a necessidade da verdadeira humildade. Enquanto os discípulos contendiam entre si pelo lugar mais elevado no reino prometido, Cristo cingiu-se e executou o trabalho de um servo, lavando os pés daqueles que o chamavam de Senhor.

Hoje todos somos chamados a fazer o mesmo, a sermos humildes e simples em nossa liderança. Não deve haver luta por poder e superioridade entre nós. Todos somos iguais. É necessário primeiro tornar os nossos corações mais simples, para poder entender tudo o que Deus tem reservado a nós e em nosso ministério.

Quero tirar algumas lições deste exemplo de Jesus:

1.Revelação de humildade e serviço (Jo 13:4 e 5). Nenhuma referência do Antigo Testamento ao lava-pés mostra senhores lavando pés de subalternos (Gên. 18:4 e 5; 24:32 e 33). Mas Cristo, o Deus encarnado, inclinou-se para lavar os pés dos discípulos, um dos quais era o traidor.

2. Demonstração de igualdade e fraternidade (Jo 13:13-16). Embora o cristianismo não elimine todas as distinções sociais, diante de Deus nenhuma diferença de raça, cultura, sexo, idade, cor, classe social e economia têm valor. Um líder é desafiado a inclinar-se e lavar os pés de qualquer pessoa, porque todos somos irmãos em Cristo.

3. Unidade com Jesus (Jo 13:8). Quando Pedro quis impedir que Cristo lavasse seus pés, teve de reconhecer que esse gesto o afastaria do Mestre. Ao lavarmos os pés uns aos outros, reconhecemos que dependemos sempre de Jesus para a nossa salvação. Ele nos serviu primeiro e assim servimos a nosso semelhante e nos unimos a ele.

4. Símbolo de purificação (Jo 13:10). Mesmo depois de termos sido lavados completamente, no início da nossa caminhada com o Senhor, necessitamos de purificação posterior. Esses pecados precisam ser perdoados. O lava-pés aponta o fato de que Jesus está desejoso de lavar-nos outra vez e purificar-nos.

5. É uma ordem do Senhor (Jo 13:14-16). Ao lavar os pés dos discípulos, Cristo ordenou que seguíssemos seu exemplo, lavando os pés dos nossos liderados, não acusando-os, julgando-os e nem condenando-os.

6. Garantia de bênção (Jo 13:17). Finalmente, Cristo declara bem-aventurado todos aqueles que participam no lava-pés.

Vivemos num mundo em que servir é demonstração de fragilidade. Biblicamente, é sinônimo de fortaleza. Nosso desafio como líderes íntegros é preparar as toalhas certas para os pés certos, lavarmos e enxugarmos tantas quanto forem necessárias.

Quem disse que seria fácil? Mas podemos fazer isso como igreja do Senhor Jesus. Sozinhos é mais difícil, mas no corpo é mais certo atingirmos o alvo. Vejam João 21: 15-18.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A INTEGRIDADE DO LÍDER CRISTÃO E O SEU CARÁTER


"O caráter é superior ao intelecto."

Ralph Waldo Emerson

É impossível pensar em líderes íntegros sem refletir sobre o caráter que esses devem ter.

De forma bem simples caráter são princípios. É o conjunto de qualidades éticas resultam na formação moral de uma pessoa. Líderes íntegros precisam ter princípios corretos. Princípios são aprendidos. Assim sendo, o caráter é construído através de um aprendizado, uma disciplina do espírito que depende do esforço individual, dos meios culturais à disposição dos indivíduos e da ação poderosa do Espírito Santo em nossas vidas. Construir um caráter requer que nos foquemos em nossos valores e ações. Requer mudanças que passam pela transformação do pensamento - e isso é absolutamente difícil, pois acarreta a abrirmos mão de atitudes contrárias à vontade de Deus, ao tempo de tomarmos posições coerentes com a nossa fé e doutrina, de termos forças crescente para buscar idéias e conhecimentos novos a serem adquiridos.

Aqui está o grande desafio! Três razões que justificam essa afirmativa:

1. Os princípios do nosso tempo são essencialmente humanistas;

2. Sabemos que somos pecadores e que o que queremos isso não fazemos e o que não queremos isso fazemos, conf. Rom.7.19. Somos profundamente afetados pela realidade que nos cerca. Existem vários exemplos dignos de serem citados de pessoas na Bíblia que nos demonstram traços positivos em seus caráteres. Por exemplo: A sinceridade de Davi, a determinação de Elias, o altruísmo de Ester, a piedade de José, a incorruptibilidade de Noé, a coragem de Débora, a autenticidade de Paulo, o dinamismo de Pedro, a submissão de Sara, a eficácia de Moisés, e a fidelidade de Abraão.

Mas é claro que todos nós sabemos dos traços negativos dos personagens citados, como somos sabedores de todo o processo de aprendizagem que eles tiveram que experimentar para poderem ser transformados. Sabemos que o nosso padrão absoluto sempre será Jesus. Ele é o nosso alvo. Nosso caráter precisa ser o mais próximo de Jesus.

Para esta palestra quero usar a vida de Abraão como ponto de partida para a nossa reflexão.

A vida de Abraão mostra que qualquer pessoa escolhida por Deus para liderar pode ter falhas de caráter, a questão é se, durante a sua trajetória, ela permite que Deus ajuste o seu caráter ao dele.

Abraão foi um líder que obedeceu a Deus, deixando tudo para trás por causa de uma visão do Senhor. No entanto...

Ele foi um homem que entregou sua esposa duas vezes para outro homem, mentiu, (Gn 12.10-20; 20 1-7) aceitou gerar um filho com uma serva de sua esposa, (Gn16.1-2) e ainda teve de ouvir de um ímpio que ele era um mentiroso (Gn 21.23).

O episódio da morte de Sara mostra os ajustes que Deus havia feito no caráter de Abraão. Havia algumas falhas no caráter de Abraão que foram sendo corrigidas com o tempo.

Depois que Abraão foi chamado de mentiroso por Abimeleque, na negociação dos poços de água, (Gn 21:25) a bíblia não menciona nenhuma fraqueza do seu caráter.

Ao contrário, Abraão faz questão de comprar o terreno para enterrar sua esposa. (Gn 24:4-20).

1. Temos que aprender a firmeza de caráter na adversidade.

"Abraão desceu ao Egito". Ás vezes tomamos decisões erradas pressionados pelas adversidades. Abraão estava vivendo uma situação geral difícil. Seus problemas incluíam uma esposa estéril, a separação de seus parentes, e ainda uma terra seca que não produzia nada. A Bíblia diz em Pv 14:12. "Há caminhos que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte".


Abraão precisava manter-se fiel à direção divina para que as coisas dessem certo e, infelizmente, não conseguiu mediante o medo. È sempre perigoso quando sentimos medo sairmos da direção divina e passarmos a dirigir a nossa própria vida. O caminho para o Egito é sempre ilusório e termina em frustração.

As conseqüências foram às seguintes:

1. O Faraó repreende Abraão.

2. O profeta Abraão é forçado a ouvir Deus através de Abimeleque - ou seja, neste contexto, Abimeleque é o profeta para com Abraão, e não o contrário.

3. Enquanto Abraão esteve fora da vontade de Deus e em terra estranha, não conseguiu construir nenhum altar ao Senhor, como fizera antes. A Bíblia declara que o "ministério da fé é guardado em uma pura consciência".( Hb 10:22)

4. O “outro” recebeu as conseqüências do caráter de Abraão. (Gn 20:3,17-18).

5. Uma família desajustada.

O líder cristão também tem conseqüências em sua vida quando possui traços negativos em seu caráter.

Quais os caminhos de aprendizagem que precisamos trilhar para que o nosso caráter seja aprovado por Deus?

Entre outros penso que quatro caminhos:

1. Temos que aprender que o caráter nos leva à devoção e a devoção cria em nós o caráter.

O caráter nos leva à devoção e a devoção cria em nós o caráter

Quando vivemos um tempo de devoção, estamos nos aproximando de Deus e neste ato o nosso caráter vai sendo trabalhado. Em João 15:5, Jesus diz: “sem mim, nada podeis fazer”. Deus disse assim para Abraão: “anda na minha presença e sê perfeito”. Ele não disse “sê perfeito e anda na minha presença”.

Creio que na medida que vamos andando com Deus, Ele vai moldando o nosso caráter, transformando a nossa vida. Mas não creio que é pelo fato de termos um bom caráter é que temos também necessariamente uma boa vida devocional, mas é certo que quando temos uma boa vida devocional, temos um bom caráter. Falo de uma vida devocional que não seja só de oração e leitura da Palavra, mas, de fato, uma vida de andar com Deus. A Bíblia diz que Enoque andou com Deus... E alguém anda com Deus não porque é perfeito, mas para que possa vir a ser perfeito. Ficamos melhor quanto mais andamos com Deus... A vida cristã não é algo que vem fabricado. O caráter vai sendo trabalhado dia a dia, é um processo.

2. Temos que aprender que o caráter somente é transformado plenamente em Cristo Jesus.

É somente na pessoa de Cristo, que mensagem cristã e vida se fundem numa plena perfeição. Nele habita, verbaliza-se e manifesta-se toda a plenitude do caráter divino (Cl 2.9). Em Cristo o quer e o efetuar se harmonizam e agem através de ações concretas que demonstram verdadeiramente os princípios de Deus. Moody disse que “caráter é o que o homem é na obscuridade”. Por isso necessitamos do sangue de Jesus em nossas vidas.

3. Temos que aprender que não há atalhos para o forjar do caráter de Deus em nossas vida e ministério.

Abraão foi surpreendido pela fome, supondo que o caminho de Deus não incluísse a adversidade. Mas Abraão teve que aprender que Deus designa os testes da vida para desenvolver nossa fé, não para destruí-la.

Em minha opinião, deixar Canaã para ir para o Egito foi uma tentativa de Abraão de encurtar o teste da fome. Deus forçou Abraão a enfrentar Faraó em lugar da fome. Mas, além disso, precisamos ver que, no final, Abraão teve que voltar ao lugar de onde se afastou da palavra revelada de Deus. O último ato de fé e obediência de Abrão foi no altar que ele construiu entre Betel e Ai.

Nós podemos desviar do caminho para o qual Deus nos chamou a andar? Podemos, é claro, mas o caminho nunca será fácil. E, no final das contas, precisamos retornar àquele que deixamos de lado. Não podemos destruir os propósitos e planos de Deus para a nossa vida.

4. Temos que aprender a pedir perdão pelos pecados formados por um caráter distante da vontade de Deus.

Precisamos confessar as fraquezas de nosso caráter. Fred Smith em seu livro O Impacto da Liderança com Integridade diz o seguinte: "A confissão clareia e limpa nosso caráter" (pág 50). E isso certamente deve acontecer em nossas vidas. O caráter de um líder cristão deve ser puro e a pureza vem sempre com a transparência. Devemos lembrar que quando confessamos o que há de errado em nós somos obedientes e a obediência constrói o caráter de uma pessoa de Deus. Quando alguém possui um coração arrependido sinceramente diante de Deus isso faz com que ele caia no erro e fique preso no pecado.

Quero terminar esta palestra com uma frase: "O caráter não pode ser desenvolvido na calma e tranquilidade. Somente através da experiência de tentativas e sofrimentos a alma consegue ser fortalecida, a visão clareada, a ambição inspirada e o sucesso alcançado." Helen Keller.