terça-feira, 15 de maio de 2018

POR QUE OS CRENTES SE AFASTAM? - parte I



Há cerca de oito anos venho me dedicando aos estudos a respeito de crescimento da igreja, pois fazem parte da minha tese de doutorado. Sendo assim, vou expressar de maneira bem sucinta aquilo que tenho pesquisado ao longo destes anos e também o que tenho percebido como pastor urbano por mais de 18 anos, sendo que mais de 14 em uma mesma igreja. Não há na sequência dos motivos apontados nenhum critério de importância maior ou menor.
1. O individualismo de cada cristão evangélico – Antes, quando um pastor dizia: “O mundo está entrando na igreja” todos sabíamos que ele estava falando sobre vestimentas, principalmente das mulheres. E o mundo entrou por portas onde não se tinha profecias (Sempre é assim. Estamos tão preocupados em profetizar sobre algumas coisas que esquecemos de outras bem mais importantes). Agora temos uma igreja individualista. Como é possível isto acontecer num espaço essencialmente comunitário? Não devemos ignorar as operações diabólicas nestes últimos tempos. Cada membro pensa de um jeito, sente de uma maneira, entende a partir do seu umbigo e assim se constrói um epicentro onde cada um é a referência de si mesmo. Os cristãos saem das igrejas por que querem sair. Conheço igrejas maravilhosas que possuem tudo de bom na liderança, firmes na doutrina e mesmo assim perdem membresia. O membro acorda e pensa: Vou sair, não quero esta comunidade e sai, ponto final. O que quero dizer é que por mais que possamos ser como igreja, muitos, simplesmente, por seus momentos existenciais e pela complexidade de sua família, sonhos e outras coisas decidem romper vínculos;
2. A transição por que passa a igreja – Perguntaram a mim, em um simpósio, qual é a diferença de uma igreja pequena e grande. De maneira bem humorado respondi: “A pequena é aquela em que os membros querem muita comunhão, todos juntos; a grande é aquela que isso não é tão importante, o que é importante são os eventos, as celebrações, a massa. Sabemos quando uma igreja é pequena ou grande quando existem estas realidades citadas (estou simplificando bem todo o conceito). Há gente que gosta de uma igreja de comunhão e outros de uma igreja com muitas “atrações”. Agora uma igreja não sai do tamanho pequeno para o grande antes de passar pelo estágio médio. Aqui está o foco de nosso pensamento. Quando a igreja passa pelo tamanho médio, muitos dos seus membros pensam se ela será resposta para o que querem. Julgam e depois decidem se vão ficar ou não. Muitos são rápidos nesta decisão, outros demoram e aí quando a igreja crescer eles saem. Estes dias estava conversando com membro de uma igreja grande que me dizia: Pastor, a minha igreja cresce muito, ela é uma bênção! Mas agora tem gente saindo porque diz que ela está muito grande...eu não entendo! Também converso com membros de igrejas pequenas que dizem: “Pastor vou sair de minha igreja ela não cresce, não tem programações atraentes”.
3. Os problemas familiares – Existem muitos em nossas igrejas. Tenho percebido que pessoas saem porque querem muitas coisas para a sua família e a igreja não pode, por melhor que seja, supri-las. Por exemplo: o marido quer uma igreja assim e aí a mulher vai para outra igreja. Houve um caso em meu ministério, entre muitos, assim: “Meu marido na igreja que freqüentamos fez amizade com todos os homens da igreja – ele gosta muito da igreja, mas ainda não é salvo. Agora ele tem tanta amizade que acha até que pode ser membro da igreja sem ser salvo e batizado – na verdade ele se sente como tal. Quero vir para a sua igreja, pastor, para começar tudo de novo, quem sabe aqui, sem amizades , ele aceita a Jesus.Eu disse: Isto pode ser um caminho. Ela veio para a nossa igreja e não é que ele aceitou a Jesus, se batizou e hoje é um homem abençoado em nossa comunidade? O que há de errado em uma igreja que conquista a amizade de um marido de uma irmã? Absolutamente nada, mas os problemas familiares foram envolvidos e aí....sai da frente porque entre a preservação da família e suas conquistas, a igreja ficará sempre em xeque-mate.
4. As estações da vida – As pessoas mudam. Mudam quanto à idade, ideais e planos. Se elas não mudam, às vezes a empresa em que elas trabalham mudam. O que quero dizer? Os cristãos saem das igrejas porque muitas vezes compram casas em outros lugares – é normal na aposentadoria o homem querem viver em zonas rurais e aí a mulher vai com ele; as empresas transferem as pessoas de lugares ou onde elas vão trabalhar é longe demais do lugar onde moram e precisam se mudar. Mudando de casa, elas mudam também de igreja. Há uma pesquisa sobre o raio geográfico que facilita o membro ficar em uma igreja ou não, é o seguinte: a distância de sua casa ao trabalho é geralmente o calculo que ele faz da distância de sua casa para a igreja. E se poderia dizer muito mais sobre isto, mas acho que já deu para entender.
5. As faces da igreja local – Não se tem como negar o fato que vivemos numa sociedade consumista e que essa mentalidade está na cabeça de cada membro da igreja. Ele quer chegar na igreja e ver todos os “produtos na prateleira” e escolhe o melhor para a sua vida e família. Certo ou errado os “produtos”que chamamos corretamente de ministérios precisam estar presentes. Um casal que tem filhos tem a preocupação de vê-los bem educados no aspecto religioso e vão para uma igreja que possui um ministério infantil que segundo eles é eficaz e assim vai. Quando onde estão não há ou não sentem que haverá no futuro, saem e vão para outra igreja que possui. Se pudesse escolher, não ficaria numa igreja que não tivesse um trabalho com adolescentes e jovens, pois tenho duas filhas nestas faixas etárias e quero o melhor para elas.
6. Liderança que não se capacita – A leitura hermenêutica da vida por parte dos pastores e da liderança traz membros ou manda-os para fora. Há lideres que tem problemas com o trabalho feminino, outros com pessoas de liderança forte e outros. Líderes que colocaram uma coisa na cabeça e não mudam. Acham que são os verdadeiros e únicos oráculos de Deus na face da terra. São Messias do Reino de Deus. É impossível ficar numa igreja assim. Todos tem que pensar como ele – antigamente isso podia funcionar – eu mesmo quando o pastor falava eu abaixava a cabeça e pronto. Mas hoje as crianças já na educação infantil aprendem a questionar – nós líderes precisamos lidar com essa geração e para isso precisamos nos capacitar. Temos que trocar nossas lentes para vermos melhor.
7. A existência de várias igrejas – Cresci em tempos que havia poucas igrejas. Quando se tinha um problema na igreja mesmo assim ficávamos na mesma igreja – não havia outra maneira. Hoje tudo mudou. Se alguém tem um problema com a liderança ou com membros na própria igreja, vai tranquilamente ou as vezes até sofrendo, mas vão. E não que vão para uma igreja pior do que a nossa, apesar disso acontecer também, mas vão para igrejas muito boas e continuam sua vida cristã normalmente. O que fazer? Fica somente a constatação.
8. Satanás – Satanás tira pessoas das igrejas. Não devemos esquecer que nossa luta não é contra a carne e sangue, mas contra ele e suas hostis. Cristãos que dão brechas para ele atuar em suas vidas, são propensos a saírem de suas igrejas. Não precisa de um motivo, somente uma flecha maligna muda o pensamento e torna esse obstruído a Palavra de Deus e num passe de mágica rompe vínculos como que enfeitiçados pelas promessas malignas.
9. Outros interesses – Quando recebo alguém no gabinete para dizer que está saindo da igreja muitas vezes, creio ter o dom do discernimento, se não tenho pelo menos os anos e trabalho me deram um certo traquejo, fico pensando que o motivo que está me dizendo como sendo o motivo para a sua saída não tem nada de real. É um discurso hipócrita que, as vezes, nem mesmo a pessoa consegue identificá-lo. Quero dar uma exemplo: Uma moça me procurou para dizer que estava indo para outra igreja. O motivo: a igreja é grande e quero ter comunhão. O real motivo: sozinha, com mais de 35 anos, viu nesta outra igreja possibilidades de casamento e já tem um na mira. O que dizer? Ela quer se casar.
10. Falta da Palavra de Deus – Não estou pensando aqui em doutrina, apesar disto ser necessário para a igreja, mas numa mensagem bíblica para os cristãos que realmente chegue a mente e ao coração. Tenho visto muitos esboços de sermões e tenho ouvido outros tantos. Lindos na forma, mas não faz o povo rir e chorar – se arrepender, se humilhar – não gera fé. A fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus e quantos realmente pregam a Palavra de Deus? Pregam filosofia, sua visão de mundo, seus “recalques”, frustrações. Vomitam suas mágoas e colocam jugo sobre o povo. O povo fica sem fé. Sem fé eles vão a outros lugares para buscarem e acabam ficando por lá. Certo ou errado é assim que as coisas acontecem.
11. Há igrejas ruins – Pode parecer algo terrível para se dizer. Mas o fato é que nenhuma igreja é tão boa e tão ruim, mas conseguimos algumas que pelo menos ficam na média. Agora temos que admitir que há igrejas que parecem que o inferno tomou conta. É só briga, confusão, disputa pelo poder, hierarquia e etc... o cristão não fica numa igreja assim, só se for “macaco velho de igreja” e olhe lá.
12. Crentes carnais – Há muitos. Que não pensam no Reino e no desenvolvimento de sua igreja. Muitos saem quando sua igreja vai construir porque não querem contribuir financeiramente; outros porque a igreja está colocando limites de santidade e não querem para as suas vidas, preferem igrejas que ninguém coloque o dedo na ferida – é a geração paz e amor – uma reedição dos hippies.
13. Joio no meio do trigo – Bem não compete julgarmos e nem peneiramos, mas o fato é que eles existem. O joio vai sair em algum momento da igreja e seria tão bom se todos saíssem, mas o fato é que as coisas não são como queremos.
Há muitos outros fatores, mas para um debate acho que já esta de bom tamanho minhas considerações.
Não podemos simplificar os motivos que os membros saem de nossas igrejas. Vejo muitos palestrantes jogando o jugo da saída desses sobre os ombros somente dos pastores e outros nos ombros dos membros. Criamos uma geração de culpados. Acho que este não é o caminho.
Minha proposta é que possamos começar a esboçar uma teologia para uma nova igreja que cresce e decresce, já que só temos no mercado teologias de crescimento ao longo deste últimos anos.

7 comentários:

  1. Realmente muito elucidativo este estudo sobre um tema tão presente em nossas igrejas. Sou professor da Escola Bíblica em minha igreja local e com certeza vou comentar isto com meus alunos. Deus o abençoe.

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  2. todo o segredo de uma igreja está exatamente na motivação correta de sua liderança, carater e desejo de entender e ensinar os ensinamentos biblicos de forma correta e sem distorções e preconceitos, sem uso de ferramentas do marketing contemporâneo mas confiando que o Espirito Santo de Deus e quem convence da justiça do pecado e do juizo, sem avareza e conceitos capitalistas, mas confiando unicamente na providencia divina aquela mesma que dava o mana no deserto diariamente ao povo de Israel no deserto.

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  3. Concordo também com isso. Porém, há outros motivos que não passam pela liderança, conforme o artigo descreve. No livro que estou escrevendo, pontuo mais de 20 outras razões.
    Abs

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  4. Nossa parabéns gostei muito do artigo, relata muitos problemas das igrejas hojé em dia. nota 10 que Deu os abençõe

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  5. nao podemos esquecer o fato de muitas igjas q, deixam jesus de lado e ganham membros e nao almas para o reino,mas o que impoorta hoje em nossos dias (qualidade ou quantidade)?existem igjas p tudo e pra todos os gostos ,me ajude a entender

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  6. Paz querido muito tempo heim?Saudades!!!

    Particularmente, tudo o que foi posto é vero, mas não podemos esquecer que a "igreja"representada pelos seus lideres se tornou utilitarista e um fim em sí mesma, os crentes se tornaram interesseiros e barganhadores e muitas instituições oferecem-se para intermediar o processo, e lucrar o serviço prestado, ou seja se tornaram prestadoras de serviço, oferecendo desde de teologia apropriada, psicologia regressa colocando a doença depois dando a cura interior, bençãos personificadas, até descanço dos filhos no entretenimento ao qual se tornaram os cultos.

    Embora meus primeiros anos de fé foram em uma comunidade pentecostal conservadora, como eram as Assembléias de Deus, ainda existia amor comunitário, cansei de ver mendigos e homossexuais adentrarem aos cultos e serem curados, meu melhor amigo daqueles tempos foi homossexual e foi transformado pelo amor de Jesus na vidas das pessoas, pois o evangelho não era só pregado como o é hoje numa verborragia sem fim, mas era vivido, apesar dos equivocos, o amor imperava.

    Sinceramente a falta de amor e de vida no discipulado do Cristo são maioria entre líderes e membros, e o que acontece é que sem isso nada vale a pena, as pessoas sem Jesus logo se veêm numa coreografia de aflitos levantando as mãos nos cultos e cantando e dançando, pra sí , pois sabem que ninguém as ouve, mas a religiosidade coletiva traz conforto etc....

    Oro para que Jesus transforme a comunidade Cristã atual, ou que ela se converta, pois os modelos oferecidos televisivamente e nas demais formas de expressão cristã, são deprimentes, e assim continuando não restara muita gente nestas comunidades.

    Deus abençoe amigo.Paz a todos

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  7. muito interresante adorei a matéria

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